Após serem transferidas para novo local, crianças acolhidas em Abrigo Municipal de Maringá fogem mais uma vez
Crianças foram levadas para um novo imóvel depois de série de fugas e registros de problemas estruturais no Abrigo Municipal. Polícia Militar, Guarda Munici...

Crianças foram levadas para um novo imóvel depois de série de fugas e registros de problemas estruturais no Abrigo Municipal. Polícia Militar, Guarda Municipal e Samu foram acionados para atender a ocorrência. Abrigo Municipal de Maringá registra ocorrência em novo local Após serem transferidas para um novo local, cinco crianças acolhidas pelo Abrigo Municipal Infantil de Maringá fugiram novamente na noite de terça-feira (3). A Polícia Militar (PM-PR) foi acionada para atender a ocorrência, mas informou que quando chegou ao local, as crianças já tinham sido encontradas. Profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também prestaram atendimento e disseram que os menores apresentavam sinais de "surto psicótico". A prefeitura informou que as crianças foram encaminhadas ao hospital municipal e estão em observação na ala psiquiátrica. ✅ Siga o g1 PR no Instagram ✅ Siga o canal do g1 PR no WhatsApp No boletim de ocorrência da PM, consta a informação de que equipes do Samu e da Guarda Municipal informaram que o Conselho Tutelar foi acionado, mas se recusou a comparecer no local. O g1 procurou o órgão e aguarda um retorno sobre o caso. O antigo prédio do Abrigo Municipal foi desativado há uma semana após série de fugas, agressões e registros de problemas estruturais. A prefeitura informou que, das 26 crianças que estavam acolhidas no antigo imóvel, 14 estão no local provisório. O restante foi encaminhado para famílias acolhedoras. Janelas do abrigo foram quebradas com pedras. Alex Magosso/RPC O município ainda informou que está locando imóveis para a implantação de novo abrigo e que na próxima segunda-feira eles já estão disponíveis para abrigar as crianças. Na tarde desta quarta-feira (4), foi realizada uma reunião com o Ministério Público do Paraná (MP-PR), o Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria) da Polícia Civil (PC-PR) e a Prefeitura de Maringá sobre o caso. Em nota, o município disse que apresentou algumas medidas na reunião, como a elaboração de um Protocolo de Ação/Plano de Conduta dos servidores no cuidado às crianças acolhidas, que será avaliado pelo Ministério Público e Nucria. Disse ainda que será elaborado um laudo médico e psicológico de todas as crianças acolhidas. A prefeitura também informou que será disponibilização um profissional do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) para acompanhamento das crianças - principalmente das que fazem tratamento com medicamentos controlados. O município afirmou que vai capacitar os servidores do abrigo para atuarem com assertividade em situações de crises de crianças acolhidas e vai dividir os acolhidos por idade, em dois imóveis que estão em processo de locação. Além disso, a prefeitura disse que está iniciando um processo de chamamento público para terceirização de alguns serviços para o atendimento das crianças e adolescentes acolhidos pelo município. Conforme apurado pela RPC, na terça-feira, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Maringá decidiu que vai realizar uma visita ao abrigo para analisar a situação. O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente também informou que fez uma resolução exigindo providências urgentes ao município, em relação à rede de acolhimento de crianças. LEIA TAMBÉM: Apostas online: Suspeito de desviar dinheiro de ONG movimentou mais de R$ 6 milhões no PR 'Boate Azul': como a morte de um papa inspirou criação no Paraná de um dos maiores 'modões' do Brasil Curitiba: Vendedora será indenizada em R$ 15 mil após gerente pedir para que ela usasse saias curtas para favorecer vendas Em escutas especializadas feitas pela Polícia Civil, crianças relataram violência física e psicológica O Nucria realizou 10 escutas especializadas com crianças do Abrigo Municipal Infantil. De acordo com a delegada Karen Nascimento, as crianças relataram agressões e violência psicológica dentro do abrigo. Servidores também foram ouvidos e falaram sobre problemas estruturais e falta de pessoal. Segundo a delegada, as crianças narraram episódios em que uma das educadoras deu tapas no rosto de abrigados e até um caso em que a funcionária segurou uma das meninas pelo pescoço. Uma das crianças, inclusive, estava com hematomas nos braços. Uma testemunha também foi ouvida e contou que viu uma das educadoras segurando forte no braço de uma das acolhidas e puxando o cabelo dela, em frente ao abrigo. A delegada Karen informou que a suspeita é de que as agressões foram praticadas por uma servidora que passou a integrar o quadro de funcionários do abrigo neste ano. Em outros relatos, as crianças disseram que presenciavam xingamentos e eram alvo de violência psicológica. Segundo a delegada, elas contaram que ouviam frases como: "se você não se comportar, eu vou separar você dos seus irmãos" e "você não tem família". "São situações que as crianças que já estão ali por conta de uma situação de vulnerabilidade, de abandono, negligência e violência, e isso acaba gerando uma sessão de muita tristeza", disse a delegada. Além das crianças, também foram ouvidas a diretora, a psicóloga e a assistente social do abrigo. A delegada informou que elas relataram uma série de dificuldades, como falta de servidores e problemas estruturais. Os servidores disseram ainda que o local deveria ser um acolhimento provisório para algumas das crianças, mas que muitas estão abrigadas ali há muito tempo. De acordo com a delegada, a investigação vai apurar se foram cometidos crimes como lesão corporal, maus-tratos e agressões na instituição. Antes das fugas das crianças, prefeitura foi notificada pelo Ministério Público sobre problemas em abrigo infantil A Prefeitura de Maringá, no norte do Paraná, havia sido foi notificada pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) sobre a necessidade de melhorias no Abrigo Municipal Infantil cerca de 10 dias antes das fugas de crianças registradas no local. A portaria de instauração de notícia de fato foi publicada no dia 17 de maio, pelo promotor de Justiça Ricardo Malek Fredegoto. Na argumentação, ele considerou uma visita ao abrigo realizada no dia 8 de maio, quando foi constatado o "agravamento de um cenário de persistentes inadequações e omissões que comprometem a dignidade e a segurança das crianças e adolescentes acolhidos" pela instituição. Documento considerou o relatório de uma visita ao abrigo no dia 8 de maio. Jhonny Rosa/RPC O documento apontou as seguintes irregularidades: Falta de recursos humanos: a necessidade de mais educadores foi relatada em uma visita ao abrigo no dia 5 de janeiro e como necessidade urgente em 6 de fevereiro. Em uma visita realizada em março, eram apenas dois educadores para atender 26 acolhidos. Além disso, o documento informa que houve pedidos de exoneração de servidores sobrecarregados e impactados por casos complexos. Também é destacada a demora na reposição de pessoal, com apenas três servidores enviados ao local e a recusa de educadores em realizar horas extras devido à complexidade e riscos de alguns casos; Problemas estruturais: varões de cortinas e vidraças quebradas, portas danificadas, van do abrigo em oficina desde o fim de 2024, falta de motorista para transporte escolar, lentidão em processos de compras para reparos e substituição de mobiliário e utensílios; Falta de documentação exigida: a instituição não possui inscrição válida do serviço de acolhimento no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), nem auto de vistoria do Corpo de Bombeiros válido e de alvará da Vigilância Sanitária válido; Dificuldade de ações com outros órgãos essenciais: existe a dificuldade de articulação do serviço de acolhimento com outros órgãos da rede de proteção, incluindo a assistência social, educação e o Conselho Tutelar; Falta de atendimento psicológico: os atendimentos, que antes eram individuais, passaram a ocorrer apenas sob demanda. E o trabalho aos sábados, que visava manter contato com as crianças, foi interrompido. O promotor ainda considerou o fácil acesso dos menores ao telhado da edificação, devido à existência de muretas e desníveis no prédio, que permitem que as crianças e adolescentes subam no local, gerando um ambiente de perigo. No documento, o promotor também destacou as fugas dos acolhidos, que estariam expostos a riscos. Facilidade de acesso de crianças ao telhado do abrigo foi considerado no documento. Jhonny Rosa/RPC No dia 22 de abril, houve uma solicitação formal feita pela diretora do abrigo à diretoria de infraestrutura da Secretaria de Assistência Social para uma adequação urgente da estrutura. A sugestão era erguer um muro para impedir o acesso das crianças ao telhado, mas o pedido não foi atendido. O projeto de adequação foi paralisado mesmo depois que o diretor de Infraestrutura inspecionou o local. Diante do cenário observado no abrigo, o promotor notificou os atuais gestores da Secretaria Municipal de Assistência Social de Maringá, como o secretário Leandro Bravin; o superintendente Alex Chaves; o diretor do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), Gabriel Antunes; e o gerente da área de Alta Complexidade da Proteção Social do Município, Lindamir Schiavon, sobre a gravidade e a persistência dos problema e sobre a possibilidade de apuração de responsabilidade pessoal em caso de omissão na adoção de medidas. "A atual gestão municipal, empossada em 2025, necessita demonstrar maior diligência e proximidade em relação às demandas urgentes do serviço de acolhimento, sendo fundamental que assuma a responsabilidade pela solução integral dos problemas existentes, independentemente de sua origem, pois a responsabilidade pela condução administrativa do Município e pela garantia dos serviços é inerente ao mandato assumido. Cumpre aos atuais gestores, nomeados pelo Prefeito, aquilatar a gravidade da situação e o impacto de eventual omissão na vida de crianças e adolescentes vulnerabilizados", considerou o promotor. O secretário Bravin ainda foi oficiado para apresentar de forma detalhada e documentada um plano de ação emergencial e definitivo, com cronograma físico-financeiro para sanar todas as irregularidades apontadas nos relatórios de visita ao abrigo de janeiro, fevereiro, março, abril e de maio. Caso não fosse apresentado dentro do prazo de 10 dias, o promotor estabeleceu a adoção de medidas legais e judiciais, inclusive a apuração de responsabilidade administrativa e civil dos gestores e por ato de improbidade administrativa dos agentes públicos envolvidos. Procurada pelo g1, a prefeitura de Maringá disse que tem trabalhado incansavelmente na busca de um novo espaço para as crianças e na contratação de novos profissionais para o abrigo. Disse ainda que a administração tem tratado o tema com atenção e vem adotando uma série de medidas emergenciais, com apoio de diversas secretarias municipais para solucionar os problemas identificados. VÍDEOS: Mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Norte e Noroeste.